CRECHE ROSA MARIA PIRES
PLANO
ANUAL
EDUCAÇÃO
FÍSICA
PROF. Ms.
JULIANO SILVEIRA
ANO LETIVO:
2014
INTRODUÇÃO / JUSTIFICATIVA
A Educação Física na perspectiva da Educação Infantil tem
como centralidade de sua prática pedagógica as temáticas referentes ao corpo e
ao movimento humano. Isto é, por mais que a educação do corpo ocorra durante
todo o tempo que as crianças passam na Unidade educativa, em sua interação com
todos os profissionais atuantes na unidade e mesmo entre seus pares, a
especificidade de uma abordagem pedagógica acerca do corpo, sobretudo do corpo
em movimento, é atributo da Educação Física.
Partindo de tal
pressuposto e tendo em vista a necessidade de coerência com os pressupostos
teóricos subjacentes a Educação Infantil na esfera da Secretaria municipal de
Educação, a Educação Física deve articular seu objeto de intervenção com os
núcleos da ação pedagógica presentes nas diretrizes municipais para a Educação
Infantil. Para tal, deve levar em conta as diferentes linguagens (visual,
sonora, corporal, gestual, verbal), as relações sociais intrínsecas às
interações entre as crianças durante as intervenções pedagógicas e as relações
dos corpos das crianças com os elementos da natureza.
Na Educação Infantil, é de suma importância
que a Educação Física assuma um caráter lúdico e não etapista, ou seja, é
necessário, neste momento da educação básica que engloba os atos de educar e
cuidar, compreender a criança como um ser que não apenas absorve uma cultura
adultizada e adultocêntrica na perspectiva de uma preparação para o futuro e
sim, como produtora de cultura, de formas de compreender e significar o mundo
que lhe é apresentado cotidianamente. Esta cultura infantil é constituída por
elementos como a interação, a ludicidade, o faz de conta e a reiteração. Em
outras palavras, na perspectiva das crianças, o mundo pode ser compreendido em
uma tensão permanente entre o literal e o imaginário, em tempos nem sempre
lineares, muitas vezes voláteis ou repetitivos, que podem terminar e recomeçar
de acordo com seus interesses, de uma forma essencialmente lúdica e, sobretudo,
entre seus pares.
Assim sendo, por meio da observação
e auscultação das crianças, o professor deve tentar captar nas sutilezas da
convivência com as mesmas os elementos componentes de seu planejamento que, em
primeira e última instância, deve ter as crianças como foco. A partir desse
processo, que deve ser contínuo, os conteúdos da ação pedagógica podem ser
sistematizados, os objetivos definidos e a perspectiva de intervenção
devidamente justificada pelo educador.
No que tange especificamente a
Educação Física, tais conteúdos de ação se orientam a partir do conceito de
cultura corporal de movimentos, ou seja, das diversas formas de se movimentar
produzidas ao longo da história por homens e mulheres, que podem ser
vivenciadas por meio da expressão corporal, se constituindo em direito de todos
aqueles que frequentam a educação escolar. Os Jogos e brincadeiras da cultura popular,
manifestações culturais como boi de mamão, a capoeira, as danças folclóricas, o
circo, a ginástica, o esporte etc, são exemplos de tais manifestações.
A justificativa para a escolha de tal matriz
se encontra no fato de que, durante a infância, compreende-se que o papel
primordial da Educação Física seja possibilitar às crianças o contato com o
maior número possível de manifestações da cultura corporal de movimentos. Ou
seja, em nossos encontros devem ser oferecidos às crianças uma imensa gama de
experiências de movimentos a serem apreendidas por meio da expressão corporal.
Quando nos referimos à quantidade de experiências, é necessário salientar que
não se trata apenas de conteúdos em termos quantitativos, mas sim, que os
mesmos sejam tratados qualitativamente explorando o grandioso acervo de manifestações
corporais acumulados pela humanidade ao longo de sua história e, dessa maneira,
ampliar o mundo de movimentos das crianças.
As crianças na faixa etária de zero
a seis anos apreendem o mundo a sua volta, preponderantemente, por meio do
brincar. É sua expressão máxima de descoberta e significação do que a cerca. O
professor de Educação Física deve compreender que as mesmas, desde a mais tenra
idade, são capazes de aprender, seja individualmente ou em processos de
interação entre seus pares ou com os adultos. Portanto, no que tange ao
aprendizado no âmbito da cultura corporal de movimentos, é importante levar em
conta o desenvolvimento motor das mesmas, a fim de propormos as dinâmicas mais
compatíveis com a idade dos pequenos. Da mesma forma, é importante considerar
que as crianças possuem ritmos de aprendizagem diferentes que precisam ser
respeitados a fim de que possamos contemplar o sucesso dos mesmos no que tange
a nossos objetivos educacionais.
OBJETIVOS
No presente plano de
intervenção, a Educação Física, na perspectiva da Educação Infantil, tem como
objetivo geral a formação das crianças por meio do ensino e aprendizagem dos
aspectos cognitivos, físicos e sociais ligados aos conceitos de corpo e
movimento, contribuindo para seu desenvolvimento e para a ampliação de seu
repertório de experiências lúdicas.
Podemos destacar como objetivos específicos:
- Ampliar
o mundo de movimentos das crianças a partir da democratização e permanente
produção de conhecimentos (históricos, sociais, técnicos, éticos,
fisiológicos, culturais, políticos, etc.) que constituem a Cultura Corporal de movimentos;
- Proporcionar
às crianças vivências corporais diversificadas, pautadas em princípios
como transformação de regras e espaços, coeducação, competição/cooperação,
solidariedade e avaliação coletiva;
- Possibilitar
às crianças experiências de movimentos que auxiliem em seu desenvolvimento
físico, cognitivo e social.
CONTEÚDOS
DE AÇÃO
Como meio para cumprir os objetivos inerentes à Educação Física na
perspectiva aqui apresentada, especificamente para a Educação Infantil,
optou-se pelos conteúdos (Jogos e Brincadeiras, Circo, Ginástica e Capoeira) os
quais se compreende como pertinentes e coerentes com a faixa etária de nossas
crianças e com o Projeto Político Pedagógico da Unidade. Entretanto, deve-se
salientar que, conforme as necessidades das crianças sejam expostas, os
conteúdos poderão ser alterados, desde que as alterações não prejudiquem o
cumprimento dos objetivos propostos.
Brincadeiras e jogos: os jogos são
adaptados em função do espaço e material disponível e geralmente possuem
caráter cooperativo. Assim como as brincadeiras, que devem possuir um caráter
de faz de conta e com regras simples que devem ser compreendidas pelas crianças
e ir tornando-as mais complexas de forma gradual. Nesta perspectiva se destacam
os Jogos e Brincadeiras populares: brincadeiras e jogos com regras simples
(esconder, procurar, pegar, fugir, cabra cega, gato mia, acorda seu urso,
conheço um jacaré, Pato cinza, gato e rato, história da serpente, mestre
mandou, bate manteiga, pega-pega, cirandas, brincadeiras com corda). Também
fazem parte desta lista possibilidades de brincadeiras que envolvam a adaptação
e ressignificação dos espaços da Unidade.
No
que diz respeito à Ginástica,
podemos ressaltar que a mesma é composta por técnicas de trabalho corporal que
estão diretamente ligadas ao conhecimento sobre o corpo. Fazem parte deste
conjunto as formas básicas de ginástica: exercícios realizados de forma livre:
locomotores (rastejar, engatinhar, andar, correr, saltar, saltitar, etc.)
manipulativos (alcançar, agarrar, soltar, empurrar, carregar, suspender,
arrastar, arremessar, passar e receber, rebater, etc) de estabilidade
(flexionar, estender, girar, balançar, equilibrar, escalar, dependurar) e
outros tipos (chutar, aparar e rebater com diferentes partes do corpo, rolar,
etc). Outras possibilidades de trabalho com a ginástica envolvem o trato
pedagógico com os elementos constituintes da ginástica esportiva como, por
exemplo: rolamentos, paradas, oitavas, saltos, estrelas etc.
O
Circo é considerado como uma
manifestação cultural que congrega uma miríade de possibilidades artísticas,
muitas delas relacionadas à expressão corporal. As atividades circenses e seu
caráter eminentemente lúdico são elementos excelentes para serem abordados
pedagogicamente junto às crianças. Não somente na perspectiva de se redescobrir
uma manifestação cultural que parece ter perdido espaço cotidianamente, mas em
suma, possibilitar que as crianças brinquem de circo, imaginem o circo,
conheçam o circo e levem para suas vidas essas experiências. O malabarismo, o
contorcionismo, a mágica, o trapézio, as palhaçadas se constituem em
possibilidades pedagógicas dentro deste conteúdo de ação.
Sobre
a Capoeira, concebemos a mesma como
uma manifestação genuinamente brasileira que ainda é pouco explorada como um
conteúdo da Educação Física escolar. A mesma nos primórdios era tida como uma
prática marginalizada, com o passar do tempo foi se fortalecendo culturalmente
e hoje é reconhecida internacionalmente como uma arte, uma dança, uma luta, um
jogo que representa o Brasil. Pretende-se apresentar a mesma às crianças de
forma a se compreender os elementos referentes a sua história, a musicalidade,
a ginga e o jogo de capoeira propriamente dito.
Para
além dos conteúdos citados anteriormente, no início do ano letivo as crianças
passam pelo período de inserção. Este é um período no qual as crianças muitas
vezes têm o seu primeiro contato com a unidade educativa, com os profissionais
que nela atuam e também com seus colegas de grupo. Devido a tais
características deste momento, cabe ao professor realizar uma abordagem
pedagógica visando auxiliar as crianças nesse processo de inserção,
aproximando-se e interagindo com as mesmas, na perspectiva da ruptura com o
estranhamento comum aos pequenos recém chegados e retomada da relação
pedagógica com aqueles que já frequentavam a Unidade no ano anterior. Nesta
perspectiva, brincadeiras em sala, explorando os próprios brinquedos, materiais
e espaços se constituem numa boa alternativa para a acolhida dos miúdos.
Brincar individualmente ou em pequenos grupos com as crianças também tende a
auxiliar nesse processo que se estende de acordo com o ritmo e características
de cada criança.
METODOLOGIA
A Educação Infantil adota como pilares as ações de cuidar e
educar e assim sendo, a Educação Física deve se articular com o cotidiano das
ações pedagógicas da unidade, extrapolando a perspectiva da “hora da Educação Física”,
que remete claramente a uma lógica escolarizante, mas nem por isso deixando de
valorizar a intencionalidade pedagógica do professor em seus momentos
específicos com as crianças. Para tal, o envolvimento institucional do
professor de Educação Física deve também contemplar os momentos de higiene,
alimentação, sono, parque, comemorações, festas da família, mostra educativa,
projetos coletivos, reuniões pedagógicas, grupos de estudos, reuniões de pais
etc.
Também é relevante frisar que a organização do trabalho
pedagógico da Educação Física na Educação Infantil deve considerar os seguintes
eixos: o contexto sociocultural no qual a unidade está inserida; a faixa etária
e o número de crianças; os materiais, recursos e espaços disponíveis; a
parceira com os demais profissionais da unidade; as concepções de currículo,
educação e infância presentes no PPP da unidade; e os pressupostos presentes
nas diretrizes municipais para a Educação Infantil.
No que diz respeito ao tempo
destinado a Educação Física, de acordo com a legislação vigente, os momentos
destinados especificamente para a Educação Física são distribuídos em três
encontros semanais de 45 minutos por grupo. No entanto, a Educação Física na Educação
Infantil deve ocorrer de acordo com o Projeto Político Pedagógico da unidade e
assim sendo, pode haver uma flexibilização do tempo pedagógico, se organizando
de formas diferentes, levando em conta a faixa etária dos grupos e as
características da proposta pedagógica trabalhada pelo professor, desde que, é
claro, respeite as 2 horas e 15 minutos semanais às quais cada grupo tem
direito.
Assim sendo, optou-se, por dois encontros semanais de 1 hora
e 07 minutos com cada grupo. Esta opção leva em consideração a perspectiva da
ruptura com um modelo escolarizante de tempo de aula, a intenção de se passar
mais tempo com as crianças, desenvolvendo as propostas pedagógicas com mais
calma e também a possibilidade de participação dos momentos de alimentação e
higiene das crianças.
Os
momentos destinados à Educação Física adotarão a seguinte sequência: 1) Introdução e explicação da
dinâmica; 2) Acompanhamento (mediação) da dinâmica; 3) Avaliação final junto às
crianças.
Os
espaços físicos serão aqueles disponíveis na Unidade, como sala de aula, refeitório,
escadas, solário, etc.
Serão utilizados os materiais
disponíveis na Unidade, como bolas, cordas, aparelho de som, cones, bambolês,
etc. Cabe salientar que o uso dos espaços e materiais já será adequado às
dinâmicas de ensino propostas.
CRONOGRAMA
CONTEÚDO
|
PERÍODO
|
JOGOS E BRINCADEIRAS
|
MARÇO, ABRIL, MAIO
|
Brincadeiras
da cultura popular
|
|
Brincadeiras
no solário
|
|
Brincadeiras
no refeitório
|
|
Ressignificação
de espaços para brincar
|
|
GINÁSTICA
|
JUNHO, JULHO
|
Ginástica
com objetos
|
|
Ginástica
acrobática
|
|
Ginástica
historiada
|
|
CIRCO
|
AGOSTO, SETEMBRO
|
Acrobacias
|
|
Malabarismo
|
|
Trapézio
(equilibrista)
|
|
Brincadeira
de circo
|
|
CAPOEIRA
|
OUTUBRO, NOVEMBRO, DEZEMBRO
|
Canto
|
|
Acompanhamento
com palmas
|
|
Instrumentos
|
|
A
roda de capoeira
|
|
Acrobacias
|
|
Golpes
e defesas
|
|
O
jogo da capoeira
|
OBS: Os conteúdos programáticos
servem como orientação geral para as dinâmicas propostas ao longo do ano,
podendo haver flexibilização das propostas conforme observação e avaliação do
professor. Também levam em consideração as diferentes faixas etárias dos grupos
e os estágios de desenvolvimento das diferentes crianças.
AVALIAÇÃO
A avaliação caracterizar-se-á por ser diagnóstica – através da observação
e análise do professor buscando verificar e orientar as crianças durante todo o
processo de ensino-aprendizagem, permitindo o redimensionamento coletivo do
processo, além da orientação individual para maior aprendizagem.
A avaliação da Educação
Física estará em permanente diálogo com seu plano de ensino e com o projeto
político pedagógico da Unidade, levando em consideração tanto as observações
feitas durante os encontros com os grupos, quanto o diálogo com as professoras
dos grupos e apoio pedagógico.
Principais critérios de
avaliação:
- Observação
individual do educando, com base na realização das dinâmicas propostas, colaboração
para/com a aula, e na construção individual e coletiva de soluções para os
problemas apresentados;
- Observação
coletiva do grupo, com base na interação social dos alunos durante as dinâmicas
propostas;
- Registros
por parte do professor, sejam eles escritos, fotográficos,
em forma de vídeos, com base nos critérios acima citados;
- Auto
avaliação do professor, esta proposta avaliativa visa não somente acompanhar o
desenvolvimento e a interação das crianças durante os momentos destinados
a Educação Física, mas também possibilitar ao professor uma autocrítica
sobre o seu fazer cotidiano, implicando assim, no prosseguimento ou na
mudança de rumo das ações pedagógicas.
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
BRACHT, V. Educação
Física e aprendizagem social. Porto Alegre: Magister, 1992.
COLETIVO DE AUTORES. Metodologia do ensino da Educação Física. São Paulo: Cortez, 1992.
GRUPO
DE ESTUDOS AMPLIADOS DE EDUCAÇÃO FÍSICA. Educação Física na Educação Infantil.
In: Diretrizes Curriculares para a
Educação Física no Ensino Fundamental e na Educação Infantil da Rede Municipal
de Florianópolis – SC. Florianópolis:
NEPEF/UFSC-SME, 1996.
GRUPO DE TRABALHO PEDAGÓGICO UFPE-UFSM. Visão didática da Educação Física:
Análises críticas e exemplos práticos de aulas. Rio de Janeiro: Ao livro
técnico, 1991.
KUNZ, E. Ensino
& mudanças. 2ª Ed. Ijuí: UNIJUÍ, 2001(a).
_____. Transformação
didático-pedagógica do esporte. 4ª Ed. Ijuí: UNIJUÍ, 2001(b).
RICHTER,
A. C.; VAZ, A. F. Corpos, saberes e infância: um inventário para estudos sobre
a educação do corpo em ambientes educacionais de 0 a 6 anos. In: Revista Brasileira de Ciências do Esporte.
V.26, n.3, Campinas, 2005. P.79-93.
ROCHA,
E. A. C. Diretrizes Educacionais - Pedagógicas
para a Educação Infantil. In: Diretrizes educacionais
pedagógicas para educação infantil /Prefeitura Municipal de Florianópolis. Secretaria
Municipal de Educação. Florianópolis: Prelo Gráfica & Editora
Ltda , Vol. 1, 2010. p.12-20.
SAYÃO, D. T. Infância,
Educação Física e Educação Infantil. In: FLORIANÓPOLIS.
Secretaria Municipal de Educação. Divisão de Educação Infantil. Síntese da Qualificação da Educação
Infantil. Florianópolis, SME,
2000. p. 35-41.
______. Educação Física
na pré-escola: da especialização disciplinar à possibilidade de trabalho
pedagógico integrado. 1996. 169f. Dissertação (Mestrado em Educação)-Programa
de Pós-Graduação da Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis,
1996.
______. Corpo e movimento:
notas para problematizar algumas questões relacionadas à educação infantil e à
Educação Física. Revista Brasileira de Ciências do Esporte, Campinas, v.
23, n. 2, p.55-67. jan. 2002.
______. Educação Física na
educação Infantil: riscos, conflitos e contradições. Revista Motrivivência. Ano XI, nº13, 1999. P.222-238.
______. Grupo de estudos em Educação Física na
educação infantil: alguns aspectos do trabalho pedagógico. Revista
Motrivivência. Nº 17, 2001. P.01-07.
VAZ, A.F. Aspectos, contradições
e mal-entendidos da educação do corpo e a infância. Motrivivência,
Florianópolis, v.13, n.19, p. 7-11, 2002.
Nenhum comentário:
Postar um comentário